Os brasileiros que não cerram fileiras
em partido A ou B querem que o Brasil dê certo, embora não creiam em milagres
feitos por homens. Principalmente por homens investigados pela Lava-Jato. É uma
mistura de esperança e ceticismo.
A bipolarização do país gerada pela
crise política e econômica não dá sinais de que vai acabar. Na noite deste
último domingo, enquanto o presidente em exercício, Michel Temer, concedia
entrevista à Rede Globo, eu ouvia em meu bairro – Intermares – gritos de “Fora
Temer” e panelaços, promovidos pelos simpatizantes do PT, e também fogos,
provavelmente comemorativos, patrocinados pelos simpatizantes do novo governo e
que foram às ruas pedir o impeachment da presidente Dilma. Fogos ali, gritos
acolá, tudo junto e misturado.
Difícil acreditar em trégua política.
Temer terá que administrar o país em meio a um clima tenso e buscar resultados
positivos na economia, conquistar a credibilidade dos brasileiros, em primeiro
lugar (difícil quando se tem ministros investigados por corrupção), e a dos
investidores externos; dedicar-se a mudanças que se traduzam em números
positivos (e não apenas a ações de maquiagem) e preparar-se e também aos
brasileiros para medidas impopulares, se forem necessárias para manter o motor da
governabilidade.
Petistas e seus simpatizantes estão
raivosos e com perfil vingativo. Qualquer erro de Temer terá reação ruidosa.
Haverá, talvez, tanta zoada quanto a que houve pelo impeachment da Dilma. E sem
um rebate à altura. Afinal, aqueles brasileiros sem filiação partidária que
foram às ruas no “Fora Dilma” já conseguiram o que queriam. Não esperem que
eles voltem para comprar briga pelo novo governante, que terá muito mais
trabalho, agora, para mobilizar multidões dispostas ao enfrentamento com as
esquerdas. Afinal, o PMDB não tem know-how em mobilização popular como o PT, PC
do B e outros partidos afins. O povo, agora, quer mudanças de fato, mais
empregos, menos inflação. Serão, doravante, vigilantes do governo que, agora,
virou vidraça.
Qualquer governo dá munição à oposição –
uns mais, outros menos. No atoleiro em que o PT meteu o país, qualquer medida
com vistas à recuperação econômica pode ser dolorosa e impopular, podendo levar
o povo às ruas novamente. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meireles, em seu
primeiro pronunciamento, defendeu a volta da CPMF. Caso aprovada, não precisa
de muito mais espinhos para causar rebuliço na população impaciente.
A manifestação ruidosa no meu bairro,
num domingo à noite, dá mostras de que o clima no país continuará tenso e que o
atual governo terá uma oposição disposta a também levar multidões às ruas ante
qualquer escorregão de Temer e sua equipe. Uma oposição inconformada e que
range os dentes. Disposta a tudo.
Melhor seria se o povo soubesse votar.
Enquanto isso, tome zoada.
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