quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Coisa mais feia...


 Uma coisa que minha mãe ensinou: nunca deixar determinado emprego batendo a porta. Isso é essencial quando se quer revelar boa educação, ou porque, dada a incerteza do futuro, um dia poderá voltar pela mesma porta.

A dica vale também para os políticos. Alguns, em fim de mandato, agem como se fossem se aposentar da vida pública. E, ainda que assim fosse, não seria honesto com a população essa atitude de abandonar a cidade ou o estado porque não elegeu seu sucessor ou porque não se reelegeu. É mesquinho. Políticos assim não merecem um novo mandato, seja para que for. Não merece nem mesmo assumir qualquer outro cargo público, mesmo que por indicação.

Mas o que vemos Brasil afora e Paraíba adentro é que os prefeitos que estão saindo após uma derrota nas urnas agem como se punissem a população que elegeu outro candidato. Sequer uma decoração natalina é feita com capricho. Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, os moradores se queixam da falta de "clima de festa". Em Guarabira, a cidade está sem brilho. Em Campina Grande, o lixo se acumula pelas esquinas dos bairros e vários outros problemas se avolumam, a exemplo da greve dos agentes da Superintendência de Trânsito e Transportes Públicos (STTP).

Não, não se trata de greve por melhores salários - o que também poderia ser legítimo. A greve é porque a prefeitura mais uma vez atrasa o pagamento (desta vez, o décimo-terceiro salário). É a terceira paralisação em quarenta dias, segundo as notícias publicadas na imprensa (veja matéria neste portal), por causa do atraso nos salários.

Há outros casos de prefeitos acabrunhados com o resultado das últimas eleições que simplesmente "chutam o pau da barraca", desprezando a população e seus próprios eleitores.

Será que esses prefeitos querem, algum dia, voltar a governar seus municípios? Ou concorrer a outro cargo eletivo? Será que terão coragem de sorrir para seus eleitores e fazer promessas que não são capazes de cumprir até o final de seus mandatos?

Coisa mais feia...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Artigo da revista Politika

Artigo publicado na revista Politika de abril:

O canário vinha cantarolando, voando despreocupadamente, quando foi surpreendido por um motoqueiro, com quem chocou-se violentamente no meio da rua. O pássaro desmaiou na hora. O motoqueiro, penalizado, levou o bichinho pra casa, cuidou de suas asas quebradas, comprou-lhe uma gaiola confortável e colocou água e comida. Queria deixar tudo em ordem para que o pássaro pudesse sentir-se bem, quando despertasse.
 Antes de sair para o trabalho – já estava bem atrasado –, certificou-se de que o pássaro estava mesmo respirando. Horas depois, o canário acordou. Olhou em volta e, aturdido, foi aos poucos recuperando a memória. Lembrou-se do terrível acidente. Percebendo que estava engaiolado, agarrou-se nas grades e, inconformado, bradou:
 - Putz...! Estou frito. Matei o motoqueiro.

A piadinha acima é para ilustrar cena política do nosso cotidiano tupiniquim. O pássaro seria o PT vencedor da tese de candidatura própria, todo pretensioso, enquanto o motoqueiro seria o governador Ricardo Coutinho, todo seguro de si. O PT achando-se forte o suficiente para atropelar o governador. E este acreditando que quase mata o PT.
Quase. O seu antigo partido dá sinais de que cansou de ser coadjuvante. Quer convencer aliados e adversários de que a estrela do PT tem, sim, brilho próprio. A decisão do partido em lançar candidatura própria deixou em polvorosa vários setores políticos. O governador, agora sem papas na língua, lembrou que nunca precisou do apoio oficial do partido para vencer eleições. O prefeito Luciano Agra, em sentido contrário, disse – mas depois corrigiu-se - que agora estava difícil vencer a eleição, como que sinalizando que a candidata do PSB, Estelizabel Bezerra, não está lá com essa bola toda para enfrentar uma eleição que promete acirramentos, a menos que, por questões de impedimento, nem José Maranhão nem Cícero Lucena possam concorrer. Mesmo tendo dito, em seguida, que foi mal interpretado em suas declarações, o fato é que Luciano Agra verbalizou o que muitos queriam dizer e se sentiram constrangidos em fazê-lo.
Desta vez, a candidatura do PSB, ainda que com apoio pontual de petistas dissidentes, terá um paredão de problemas a escalar. Começando pelas cisões no próprio grupo, já que a candidatura “por fora” de Nonato Bandeira vem ganhando cada vez mais terreno e simpatizantes. E mais: terá que “rebolar” para dar o recado sem o precioso tempo do PT no Guia Eleitoral. Outro que se abalou com a decisão do PT foi o governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), que já não consegue esconder o mal-estar entre o seu partido e o da presidente Dilma, de quem alimenta o desejo de ser vice nas próximas eleições presidenciais. O jornal Valor Econômico chegou a tratar desse assunto na semana seguinte à decisão dos petistas paraibanos. Já o petista Júlio Rafael, ferrenho defensor da aliança com o PSB, cuspiu fogo antes, durante e depois da decisão. Considerou um equívoco.
Enquanto isso, Cícero Lucena e José Maranhão fingiram, a princípio, que nada aconteceu.
 O PT abalou, sem dúvida. Mas um mar de descrédito ainda cobre a legenda na Paraíba. Para mostrar que “agora vai”, que a decisão não é fogo de palha nem “caminha quente pro PMDB deitar depois”, o partido terá que ter muito fôlego para voar e gritar alto. Se, mesmo dando asas, não conseguir levantar vôo, paciência. A gaiola será o melhor lugar pra continuar sonhando e comendo a ração que lhe cabe.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Prato feito para os indigestos

Há quem critique o senador Cássio Cunha Lima por algumas ações do governo estadual. Os créditos dos acertos, no entanto, são todos do governador.

Tolice. O governo é de Ricardo Coutinho e ele deixou bem claro, na solenidade de posse da nova equipe, no domingo de páscoa, que ele se responsabiliza por todos os erros e acertos, inclusive os indiretos (aliás, como já disse aqui neste espaço, achei louvável essa postura, o oposto da covardia lulista).

É tática da oposição provocar o senador tucano para questões conflitantes entre os dois estilos de governar. Cássio emprestou seu apoio a Ricardo, continua a apoiá-lo e, na minha humilde opinião, acho que essa aliança ainda vai muito longe, porque os dois sabem que, juntos, poderão governar a Paraíba por longo tempo. Ainda que nem sempre suas opiniões coincidam.

Como se diz por aí, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”. Uma coisa é Ricardo, outra coisa é Cássio, mas a junção dos dois é uma receita que está dando certo. Ok, é preciso temperar um pouquinho aqui, um pouquinho ali, aumentar o sal acolá... mas nada que comprometa o resultado final da mistura. Cássio respeita as decisões do governo, em algumas questões pontuais até tomaria atitude diferente, mas nem por isso interpreta fatos isolados como provocação. Cada um tem sua maneira de fazer política. Os espaços estão bem definidos, os limites traçados, é cada um no seu quadrado, mas se ajudando mutuamente.

Cássio disse a um programa de TV que não é “pitaqueiro” do governo. Portanto, nem adianta a oposição cobrar essa posição do senador. Não vai colar. Nem ele se prestaria a isso, nem Ricardo aceitaria. Ponto.

O que incomoda a oposição é que essa receita, com ingredientes às vezes aparentemente incompatíveis, tem fermentado na medida certa, sem queimar o bolo. Enquanto uns apostam que essa aliança não vinga por muito tempo, outros acreditam que o jantar já está quase servido: será Ricardo candidato à reeleição com apoio de Cássio, e Cássio, depois, candidato ao governo com apoio de Ricardo. Para desespero dos indigestos.