Hoje transcrevo artigo do Professor de direito, advogado e militante da Consulta Popular Phillipe Cupertino.
A partir de 24 de maio de 2007 é
comemorado oficialmente o dia nacional do cigano, uma data que para a maioria
da população pode passar despercebida, mas que foi celebrada por esses povos
que habitam o Brasil desde o final do século XVI. Digo povos por se tratarem de
sete etnias presentes em todo mundo, sendo que os mais comuns no Brasil são os
roms, sintos e calons, aproximadamente um milhão de pessoas.
Para o senso comum, a existência
dos povos ciganos, quando é percebida de forma menos negativa, está associada
ao exótico, em face das roupas coloridas, leituras de mãos, jogar cartas ou por
conta das danças. Contudo, por séculos, a existência de tais povos esteve assim
como ainda está associada à condutas deploráveis, são vistas como pessoas que
“não se deve confiar” ou que “se deve esconder as mãos para não terem os anéis
roubados”. Confesso que sinto muita vergonha de ter pensado dessa forma um dia.
Hoje sei que o nomadismo não é algo inerente ao povo cigano e sim imposto pela
falta de compreensão que o padrão eurocêntrico ocidental de sociabilidade os
impôs, tornando-se, portanto, uma necessidade para poder sobreviver.
Como aprendi com Maria Jane,
liderança cigana da Paraíba, pessoas ruins existem em todos os lugares, mas
infelizmente falar em cigano já há presunção quase que absoluta de se tratarem
de pessoas perigosas. Pois não são! Agradeço muito ao fato de hoje coordenar um
projeto de extensão nas FIPs que faz Assessoria Jurídica Popular à Associação
calon de Condado-PB. Como diria Paulo Freire, “não há saberes mais ou menos há
saberes diferentes”. Hoje tenho a chance de me reconstruir enquanto ser humano,
enquanto militante e profissional e ainda poder contribuir para essa
desconstrução na sociedade e ao mesmo tempo dar visibilidade à causa e
resistência cigana.
Dia 20 de maio de 2016 foi um dia
histórico para a luta e resistência cigana! Em tempos em que as mulheres foram
excluídas do primeiro escalão do governo Temer tivemos uma mulher e líder do
movimento cigano, Maria Jane, palestrando para uma plateia do curso de direito
da cidade de Patos, interior da Paraíba, ao lado de outra mulher guerreira,
Jamilly Cunha, doutoranda em antropologia pela UFPE.
Conviver e respeitar os povos
tradicionais, sobretudo os povos ciganos, é algo inerente à revolução
brasileira, à luta pela soberania e emancipação dos povos historicamente
oprimidos. O fim dos ministérios da cultura, direitos humanos e promoção e
igualdade racial foi um golpe brutal na luta dos ciganos e ciganas que nos
últimos anos, ainda que com recursos restritos, conseguiram finalmente acesso
às políticas públicas e conquistarem visibilidade.
Derrotar o golpe dado pelos
setores conservadores e fascistas da direita brasileira é dar de volta aos
povos tradicionais o direito de poderem lutar por uma existência digna, de
serem respeitados dentro das suas diferenças e usufruírem das riquezas
produzidas pela classe trabalhadora.