sexta-feira, 24 de maio de 2013


TURBULÊNCIA A BORDO DA PREFEITURA


  • Ok, eu sei que parece tentador uma vida de regalias, especialmente para quem não está acostumado com isso. Muitas vezes gestores de primeira viagem – e muitos até já experientes – sucumbem a uma mordomiazinha. Quando ela é garantida pelo cargo, vá lá. Mas quando extrapola os limites do cargo e do bom senso, alguém tem que investigar.

O prefeito de João Pessoa foi flagrado num acesso de deslumbre. Pegou carona em avião particular com destino a Salvador para assistir a uma prova da Stock Car. Pode parecer inocente, mas o gestor público tem que manter distância – pelo menos aparente - de qualquer empresário que receba algum tipo de verba pública ou outro benefício, como isenção de taxas ou impostos. Pegar carona em carro particular para uma visitinha ao interior já não é recomendável. Em jatinhos para fora do Estado, piorou. Não há explicação que convença da suposta inocência do gesto. Até porque empresário nenhum faz uma cortesia assim sem qualquer intenção embutida.

O prefeito pisou na bola e agora seus assessores não sabem o que fazer para desmanchar a lambança, que ficou pior na tarde desta quarta-feira, quando o blogueiro Luiz Torres denunciou que o empresário Eduardo Carlos, um dos supostos donos do avião, lhe teria feito ameaças através de um amigo em comum. Se o “amigo” foi mesmo um enviado do empresário, ou se apenas tentou, por conta própria, aparar arestas ou agradar a A ou B, não se sabe ao certo. De qualquer forma, foi lambança das grandes. O empresário Júnior Evangelista está sendo apontado como outro possível proprietário da aeronave. Evangelista é dono de cartório. E o prefeito perdoou juros e multas em atraso dos cartórios sobre impostos acumulados há cinco anos. Aliás, isso é tema de outras (mais densas) análises políticas.

A história recente recomenda cautela. Em 2009 o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, utilizou um avião particular para uma viagem ao Maranhão e se enrolou todinho para explicar o inexplicável. ““Eu não disse que não andei na aeronave. O que eu disse foi que nunca andei na aeronave pessoal dele [de Adair Meira]“. Ôxe! Alguém entendeu alguma coisa? O jatinho, para quem esqueceu a história, seria de propriedade de um dirigente de ONG que mantinha convênios com aquele ministério.

No ano seguinte, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, teria usado avião de uma empreiteira responsável por uma obra rodoviária do governo federal no Paraná. A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, então pré-candidata ao Senado pelo Paraná, também teria viajado no mesmo jatinho. Os dois negaram, mas ninguém se convenceu.

A Câmara Municipal quer investigar a viagem. E deve ir fundo na questão. A explicação de que o prefeito também articularia, em Salvador, a realização do evento da Stock Car em João Pessoa foi divulgada pela assessoria como se isso, por si só, justificasse a graciosa carona. Não justifica. Não cola. Melhor ir pensando em uma desculpa menos esfarrapada. Ou, simplesmente, em pedir desculpas à população.