segunda-feira, 23 de abril de 2012

Artigo da revista Politika

Artigo publicado na revista Politika de abril:

O canário vinha cantarolando, voando despreocupadamente, quando foi surpreendido por um motoqueiro, com quem chocou-se violentamente no meio da rua. O pássaro desmaiou na hora. O motoqueiro, penalizado, levou o bichinho pra casa, cuidou de suas asas quebradas, comprou-lhe uma gaiola confortável e colocou água e comida. Queria deixar tudo em ordem para que o pássaro pudesse sentir-se bem, quando despertasse.
 Antes de sair para o trabalho – já estava bem atrasado –, certificou-se de que o pássaro estava mesmo respirando. Horas depois, o canário acordou. Olhou em volta e, aturdido, foi aos poucos recuperando a memória. Lembrou-se do terrível acidente. Percebendo que estava engaiolado, agarrou-se nas grades e, inconformado, bradou:
 - Putz...! Estou frito. Matei o motoqueiro.

A piadinha acima é para ilustrar cena política do nosso cotidiano tupiniquim. O pássaro seria o PT vencedor da tese de candidatura própria, todo pretensioso, enquanto o motoqueiro seria o governador Ricardo Coutinho, todo seguro de si. O PT achando-se forte o suficiente para atropelar o governador. E este acreditando que quase mata o PT.
Quase. O seu antigo partido dá sinais de que cansou de ser coadjuvante. Quer convencer aliados e adversários de que a estrela do PT tem, sim, brilho próprio. A decisão do partido em lançar candidatura própria deixou em polvorosa vários setores políticos. O governador, agora sem papas na língua, lembrou que nunca precisou do apoio oficial do partido para vencer eleições. O prefeito Luciano Agra, em sentido contrário, disse – mas depois corrigiu-se - que agora estava difícil vencer a eleição, como que sinalizando que a candidata do PSB, Estelizabel Bezerra, não está lá com essa bola toda para enfrentar uma eleição que promete acirramentos, a menos que, por questões de impedimento, nem José Maranhão nem Cícero Lucena possam concorrer. Mesmo tendo dito, em seguida, que foi mal interpretado em suas declarações, o fato é que Luciano Agra verbalizou o que muitos queriam dizer e se sentiram constrangidos em fazê-lo.
Desta vez, a candidatura do PSB, ainda que com apoio pontual de petistas dissidentes, terá um paredão de problemas a escalar. Começando pelas cisões no próprio grupo, já que a candidatura “por fora” de Nonato Bandeira vem ganhando cada vez mais terreno e simpatizantes. E mais: terá que “rebolar” para dar o recado sem o precioso tempo do PT no Guia Eleitoral. Outro que se abalou com a decisão do PT foi o governador pernambucano, Eduardo Campos (PSB), que já não consegue esconder o mal-estar entre o seu partido e o da presidente Dilma, de quem alimenta o desejo de ser vice nas próximas eleições presidenciais. O jornal Valor Econômico chegou a tratar desse assunto na semana seguinte à decisão dos petistas paraibanos. Já o petista Júlio Rafael, ferrenho defensor da aliança com o PSB, cuspiu fogo antes, durante e depois da decisão. Considerou um equívoco.
Enquanto isso, Cícero Lucena e José Maranhão fingiram, a princípio, que nada aconteceu.
 O PT abalou, sem dúvida. Mas um mar de descrédito ainda cobre a legenda na Paraíba. Para mostrar que “agora vai”, que a decisão não é fogo de palha nem “caminha quente pro PMDB deitar depois”, o partido terá que ter muito fôlego para voar e gritar alto. Se, mesmo dando asas, não conseguir levantar vôo, paciência. A gaiola será o melhor lugar pra continuar sonhando e comendo a ração que lhe cabe.

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